Mercado para pimentas
O mercado para as pimentas é muito segmentado e diverso, devido a grande variedade de produtos e subprodutos, usos e formas de consumo. Este mercado pode ser dividido em dois grandes grupos: o consumo in natura, geralmente em pequenas porções, e as formas processadas, que incluem molhos, conservas, flocos desidratados e pó como ingrediente de alimentos processados.
O mercado para as pimentas in natura é fortemente influenciado pelos hábitos alimentares de cada região do Brasil, e são parte importante de vários pratos tradicionais. Os estados da região Sul são provavelmente os que menos consumem pimentas in natura no País, havendo uma preferência pelas formas processadas, como molhos, conservas e pimentas desidratadas. Na região Sudeste consome-se principalmente a pimenta doce do tipo americana, pimenta ‘Cambuci’, ‘Malagueta’ e ‘Cumari Vermelha’. Na região Nordeste, predominam as pimentas ‘Malagueta’ e ‘De Cheiro’. Na região Norte, as pimentas mais apreciadas são a ‘Murupi’, ‘Cumari do Pará’ e a ‘De Cheiro’; na região Centro-Oeste, tradicionalmente são cultivadas e consumidas as pimentas ‘Bode’, ‘Malagueta’, ‘Cumari do Pará’, ‘Dedo de Moça’ e mais recentemente a ‘De Cheiro’, anteriormente importada do Pará e atualmente já cultivada em Goiás.
O mercado para as pimentas nas formas processadas é muito diferente das pimentas comercializadas in natura pela variedade de produtos e subprodutos que utilizam as pimentas como matéria-prima. O mercado de pimentas processadas é explorado por empresas familiares ou de pequeno porte; empresas de porte médio, especializadas ou não em derivados de Capsicum; e grandes empresas processadoras, geralmente especializadas em determinados tipos de produtos e que visam mais a exportação. Existe um grande número de pequenos processadores familiares ou de pequeno porte que fazem conservas de pimentas em garrafas de vidro com 150ml, praticamente um padrão de mercado, e que comercializam diretamente para os consumidores em feiras-livres, mercados de beira de estrada, pequenos estabelecimentos comerciais e eventualmente atacadistas. As empresas de porte médio, em geral, têm vários tipos de produtos, como conservas, molhos, geléias, conservas ornamentais, entre outros, que são comercializadas em supermercados, mercearias especializadas, lojas de conveniência e de produtos importados, ‘delikatessens’ e até em lojas de decoração. As grandes empresas são especializadas no processamento de determinados produtos, como páprica e pasta de pimenta. A pimenta para a fabricação de páprica (pimenta doce vermelha desidratada na forma de pó) é cultivada e processada por uma grande empresa na região do cerrado mineiro que exporta para a Europa grande parte de sua produção. O cultivo da pimenta para páprica é feito pela própria empresa e também por produtores cooperados, sendo que em 2003 foram cultivados 1.600ha na região noroeste de Minas Gerais com cultivares próprias fornecidas pela empresa. Situação semelhante ocorre no estado do Ceará, onde uma empresa iniciou o cultivo da pimenta do tipo ‘Tabasco’, semelhante à ‘Malagueta’, para exportação na forma de pasta. O plantio da ‘Tabasco’ é feito por pequenos produtores em áreas irrigadas, sendo cultivados anualmente 400ha (dados de 2003) com este tipo de pimenta no estado.
O mercado para as pimentas no Brasil sempre foi considerado como secundário em relação às outras hortaliças, provavelmente devido ao baixo consumo e ao pequeno volume comercializado. Este cenário está modificando-se rapidamente pela exploração de novos tipos de pimentas e o desenvolvimento de novos produtos, com grande valor agregado, como conservas ornamentais, geléias especiais e outras formas processadas. Os empreendedores rurais e o segmento da agroindústria podem descobrir novas oportunidades de negócios pela prospecção de mercado e a exploração de ‘nichos’ especializados, aproveitando o bom momento das pimentas na mídia, com uma maior divulgação de suas propriedades medicinais e desfazendo mitos de que pimenta faz mal à saúde. O lançamento de novos produtos a base de pimentas deve ser acompanhada de esclarecimentos aos consumidores, ressaltando-se as características diferenciais em relação aos produtos tradicionais, tanto para as formas processadas como para novas cultivares e tipos para consumo fresco. Exemplos de nichos de mercado para consumo in natura: aumento da oferta e divulgação das qualidades das pimentas do tipo americano, de sabor mais suave e de melhor digestão; uso de pimentas menos ardidas e mais aromáticas, como a ‘De Cheiro’ e ‘Biquinho’; cultivo de pimentas com frutos de diversas cores, formas e de tamanho reduzido para a confecção de conservas ornamentais. Na parte de processamento, desenvolvimento de molhos com diferentes graus de picância ou ardume (teor de capsaicina) e com sabores diferenciados, similar ao ‘Tabasco’ importado dos Estados Unidos; avaliação de novos tipos varietais para uso na indústria de processamento, como pimentas em flocos desidratados, conservas e geléias, entre outros.
Comercialização
A comercialização das pimentas depende do mercado de destino, que determina sua forma de apresentação, quantidade e preço. Na forma in natura, as pimentas são comercializadas como as demais hortaliças, através das centrais de abastecimento (CEASAs), que agrupa e redistribui o produto para o varejo ou para grandes consumidores, como indústrias e restaurantes. Outras formas de comercialização incluem a venda para intermediários, que compram o produto na roça e se responsabilizam pelo transporte e pela venda, e para distribuidores e empacotadores, que reúnem diferentes tipos de pimentas e as embalam com marca própria e depois revendem para a rede de varejo. Algumas das maiores redes de supermercados têm suas próprias centrais de distribuição de produtos hortícolas e comercializam com suas marcas, e neste caso podem adquirir as pimentas diretamente de produtores, fornecedores credenciados ou atacadistas.
Na maioria dos mercados atacadistas, as cotações de preços para as pimentas não distingue os tipos, ou então agrupa em classes genéricas, como ‘pimenta’ ou ‘pimenta vermelha ou ardida’. A CEASA de Goiânia é a única a discriminar todos os tipos de pimentas e fazer as cotações separadamente, talvez pela importância deste produto para a região. Neste mercado, as unidades para a comercialização e cotação média de preço em novembro de 2003 eram as seguintes: pimenta ‘Bode’, R$ 1,00 a lata com 500g; pimenta ‘Cumari’, R$ 2,00 a lata com 500g; pimenta ‘Malagueta’, R$ 4,00 a lata com 700g; e a pimenta ‘De Cheiro’ R$ 3,00/kg. Na CEAGESP, em São Paulo-SP, as cotações de preços são feitas diariamente para três tipos de pimentas, todas comercializadas em caixas do tipo ‘K’ de 12kg.
Os preços médios em novembro/2003 neste mercado eram os seguintes: ‘Cambuci’ (R$ 12,30/cx. ‘K’), pimenta verde americana (R$ 13,10/cx. ‘K’) e pimenta vermelha (R$ 29,55/cx. ‘K’). A pimenta vermelha provavelmente refere-se à ‘Dedo-de-Moça’ ou ‘Malagueta’, que também são comercializadas em caixas de papelão (1-5kg) e em bandejas de isopor de 100g. Na CEASA de Campinas-SP, as cotações de preços são feitas para três tipos de pimentas (preço médio de novembro/2003): pimenta verde americana, R$ 15,00 a caixa ‘K’ com 11kg; ‘Dedo-de-Moça’, R$ R$ 40,00 a caixa ‘K’ com 14kg; e a ‘Cambuci’, R$ 11,00 a caixa ‘K’ com 10kg. Na CEASA do Rio de Janeiro são cotados diariamente três tipos de pimenta: ‘Malagueta’, com preços variando de R$ 4,00/kg (maio a julho/2003) a R$ 20,00/kg (agosto/2003); os preços da pimenta ‘Dedo-de-Moça’ (neste mercado conhecida como ‘Caiena’ ou ‘Cayenne’) foram bem estáveis durante o ano, e variaram de R$ 4,00/kg (junho-julho/2003) a R$ 5,00/kg (janeiro a maio/2003), sem cotações no período de agosto a novembro; a pimenta ‘De Cheiro’ apresentou menores preços nos meses de junho-julho/2003 (R$ 5,00/kg) e mais altos em janeiro a maio/2003 (R$ 8,00 a R$ 10,00/kg).
Nas CEASAs de Fortaleza-CE, Porto Alegre-RS, Curitiba-PR e Brasília-DF, os preços são cotados para o produto ‘pimenta’, sem explicitar o tipo ou variedade. Nestes mercados, os preços em novembro/2003 variavam de R$ 2,00 a R$ 4,35/kg.
Variação
Estacional de Preços
As cotações de preço das pimentas nos mercados atacadistas e varejistas seguem as mesmas tendências das demais hortaliças. As oscilações de preços dependem da oferta e procura do produto, principalmente da ocorrência de fatores que afetam a produção, como oscilações do clima, incidência de pragas e doenças, disponibilidade e custo das sementes, entre outros. De um modo geral, as pimentas não estão listadas entre os produtos hortícolas contemplados nos calendários de comercialização, com exceção das CEASA de Goiânia-GO e Campinas-SP. O período de menor oferta de pimentas e alta de preços no atacado corresponde aos meses de julho, agosto e setembro em Goiás e aos meses de fevereiro, maio, julho, setembro, novembro e dezembro na CEASA de Campinas.
De uma maneira geral, com as temperaturas mais baixas nas regiões Sudeste e Centro-Oeste durante os meses de inverno, existe uma tendência de redução na produção de pimentas, plantas típicas de clima quente. Em São Paulo, existe uma maior demanda por pimentas na época de inverno, porque são usadas em sopas, caldos quentes e outros pratos típicos da estação.